Conheça a importância dos fungos na agricultura

Quando falamos em fungos na agricultura, o que lhe vem à cabeça? Provavelmente doenças, certo? A associação imediata com perdas, manchas nas folhas e queda de produtividade é natural, afinal, muitos fungos representam uma ameaça real às lavouras. Mas essa é apenas uma parte da história.
Presentes nos mais diversos biomas, esses microrganismos acompanham a história da humanidade há milênios, mas só recentemente passaram a ser compreendidos com mais clareza.
Durante muito tempo, eles foram agrupados como plantas. Só em 1969 o reino Fungi foi oficialmente reconhecido pela ciência.
Mas antes mesmo da classificação correta, já começaram a surgir descobertas importantes, como a da penicilina, em 1928, que mudou o rumo da medicina moderna.
Tudo isso nos mostra que os fungos não são só agentes de doenças. Eles têm um papel ativo e complexo nos sistemas vivos, inclusive no campo.
E é sobre este assunto que vamos falar hoje. Você vai entender qual é a importância dos fungos na agricultura (benefícios e riscos), e conhecer espécies como o fungo trichoderma, os fungos micorrízicos, decompositores, antagonistas e de biocontrole. Vamos adiante?
Fungos na agricultura: heróis ou vilões?
Não existe uma resposta única aqui. Os fungos são agentes biológicos extremamente distintos, com funções que vão do benéfico ao destrutivo, dependendo da espécie e do contexto em que atuam.
No campo, essa ambiguidade traz desafios técnicos e oportunidades de manejo que precisam ser melhor compreendidos.
Algumas espécies fúngicas são responsáveis por doenças devastadoras. Basta lembrar da ferrugem asiática na soja, da ferrugem do cafeeiro ou da mancha de ramulária no algodão. Há casos emblemáticos que evidenciam o impacto dos fungos patogênicos sobre a agricultura brasileira.
Um dos mais marcantes é o da vassoura-de-bruxa, causada pelo fungo Moniliophthora perniciosa. A doença foi identificada no país pela primeira vez na Bahia, em maio de 1989, no município de Uruçuca, e rapidamente se alastrou pelas plantações de cacau do sul do estado.
O resultado foi devastador: em pouco tempo, a produção baiana de cacau caiu cerca de 60%. Quase 30 mil propriedades rurais foram levadas à falência, e estima-se que mais de 250 mil trabalhadores perderam sua fonte de renda.
O impacto social e econômico foi tão profundo que alterou a dinâmica da região por décadas, com consequências que ainda hoje são sentidas em algumas cadeias produtivas.
Por outro lado, há fungos que contribuem para a vitalidade do sistema agrícola. Alguns atuam na decomposição da matéria orgânica, variedades que promovem a simbiose com as raízes, outros ainda que controlam pragas e doenças de forma natural.
Fica claro, portanto, que a questão central não é simplesmente combater os fungos, mas sim saber como diferenciar os que devem ser eliminados daqueles que precisam ser preservados e até estimulados.
5 fungos benéficos para a agricultura
Agora que sabemos que determinadas espécies de fungos na agricultura oferecem vantagens reais ao sistema produtivo, é hora de olhar com mais atenção para esse grupo que vem ganhando destaque no campo.
São microrganismos que agem de forma direta e eficaz no desenvolvimento das plantas, na estruturação do solo e no controle de patógenos, com funções fundamentais dentro de uma estratégia de manejo equilibrada.
Hoje, o uso de fungos benéficos é uma das bases da agricultura regenerativa e do manejo biológico moderno. São práticas que aumentam a eficiência da lavoura ao mesmo tempo em que reduzem a dependência de insumos químicos, favorecendo a sustentabilidade sem comprometer os resultados.
Conheça os principais grupos de fungos benéficos utilizados na agricultura brasileira e como cada um deles contribui para lavouras mais saudáveis e produtivas.
Trichoderma
Entre os fungos mais promissores no manejo agrícola está o Trichoderma spp., amplamente reconhecido pelo papel no controle biológico de doenças do solo.
Trata-se de um fungo antagonista, capaz de suprimir diversos patógenos por meio de mecanismos múltiplos, como micoparasitismo direto, produção de enzimas líticas e metabólitos antifúngicos, além da competição por espaço e nutrientes na rizosfera.
Sua atuação é especialmente eficaz contra agentes como Sclerotinia sclerotiorum, Fusarium spp., Rhizoctonia solani e Pythium spp. – que provocam perdas significativas nas lavouras. Mas seus benefícios não param aí: o Trichoderma também favorece o crescimento das plantas.
Ele estimula o desenvolvimento radicular, aumenta a absorção de nutrientes e melhora a resistência das culturas a estresses abióticos, como a seca. Sua aplicação pode ser feita por tratamento de sementes, inoculação no solo ou via pulverização, conforme o tipo de cultura e o objetivo do manejo.
Fungos micorrízicos
Os fungos micorrízicos formam associações simbióticas com as raízes das plantas, criando uma rede subterrânea que amplia a absorção de água e nutrientes, em especial fósforo, nitrogênio e micronutrientes. A relação é chamada de micorriza e está presente em até 90% das espécies vegetais.
Quando se estabelecem nas raízes, esses fungos expandem a área explorada pelo sistema radicular por meio de suas hifas, que penetram nos microporos do solo. Dessa forma, melhoram o aproveitamento dos nutrientes e a estrutura física e biológica do solo, com aumento da porosidade, da retenção de umidade e da estabilidade dos agregados.
Os fungos micorrízicos também funcionam como uma barreira biológica contra os patógenos do solo, reduzindo a incidência de doenças e contribuindo para o equilíbrio do microbioma, com aplicação eficaz tanto em sistemas convencionais quanto em cultivos orgânicos e regenerativos.
Fungos decompositores
Os fungos decompositores participam da quebra da matéria orgânica morta, como restos de plantas, raízes e resíduos de colheita, e transformam esses materiais em compostos mais simples, que podem ser absorvidos pelas plantas. O processo enriquece o solo e melhora sua estrutura física e biológica.
A decomposição contribui diretamente para a formação de húmus, elemento importante para a retenção de umidade e estabilidade dos agregados do solo. Sua ação também favorece o aumento da biodiversidade microbiana e promove um ambiente favorável ao crescimento das raízes.
Entre os grupos mais comuns estão os fungos filamentosos do gênero Aspergillus, Penicillium e Chaetomium, que têm capacidade de degradar celulose, lignina e outros compostos complexos.
Em solos manejados com cobertura vegetal e baixa perturbação, como no sistema de plantio direto, a atividade desses fungos é intensificada e beneficia a ciclagem contínua de nutrientes.
Fungos antagonistas
Os fungos antagonistas intervêm na supressão de patógenos do solo e da parte aérea das plantas, com mecanismos de ação variados:
- Competição por nutrientes e espaço;
- Parasitismo direto sobre outros fungos;
- Liberação de compostos antimicrobianos que inibem ou eliminam organismos indesejáveis.
Essa capacidade os torna estratégicos no controle biológico, sobretudo em sistemas que buscam reduzir o uso de defensivos químicos sem comprometer a produtividade.
A presença desses fungos na rizosfera fortalece a microbiota do solo, dificulta a instalação de agentes patogênicos e promove um ambiente mais equilibrado para o desenvolvimento das culturas.
Entre os exemplos mais conhecidos estão o já citado Trichoderma spp. e outros gêneros, como Gliocladium e Coniothyrium, usados em formulações biológicas comerciais para o controle de doenças como fusariose, podridões radiculares e mofo branco.
Sua adoção vem crescendo nos programas de manejo integrado de doenças, mais intensamente em culturas de alto valor, incluindo hortaliças, frutíferas e grãos.
Fungos de biocontrole
Os fungos de biocontrole reduzem a população de patógenos no solo ou na parte aérea por competição, parasitismo ou pela produção de substâncias que inibem os microrganismos nocivos.
O resultado é um sistema agrícola mais equilibrado, com menor pressão de doenças e maior resiliência das plantas.
Entre os mais utilizados estão:
- Trichoderma spp.: aplicado contra fungos de solo e podridões radiculares;
- Beauveria bassiana: conhecido pelo controle de pragas, como insetos sugadores e mastigadores.
Esses agentes biológicos são altamente seletivos, não deixam resíduos e podem ser integrados a outros métodos de manejo.
Eles não substituem os fungicidas, mas ampliam o espectro de proteção, criando um manejo mais eficiente e menos vulnerável à resistência de patógenos.
Fungicultura: um exemplo do benefício dos fungos para a agricultura
Os fungos na agricultura também podem ser cultivados de forma direta, como fonte de alimento e renda para agricultores. A prática, conhecida como fungicultura, tem ganhado força no Brasil, acompanhando a mudança nos hábitos de consumo e o interesse crescente por alimentos nutritivos e sustentáveis.
A produção nacional de cogumelos já ultrapassa 14 mil toneladas por ano, conforme a Associação Nacional dos Produtores de Cogumelos (ANPC). Variedades tradicionais, como shiitake, shimeji e champignon (cogumelo paris), lideram o mercado, mas há espaço para espécies nativas, ainda pouco exploradas comercialmente.
Ainda segundo a ANPC, São Paulo concentra cerca de 80% da produção nacional, com pequenas e médias propriedades que encontraram nessa atividade uma alternativa rentável e de ciclo curto.
Nos últimos 20 anos, a demanda também aumentou: o consumo per capita saltou de 30 para 160 gramas anuais, resultado da busca por novos sabores e da popularização de dietas vegetarianas e veganas.
Outro ponto importante sobre o tema é a regulamentação. São Paulo foi o primeiro estado brasileiro a oficializar a fungicultura como atividade agrícola, em 2024, enquanto que, em outras regiões do país, os cogumelos ainda são classificados como hortaliças, o que gera barreiras para a organização do setor.
Além do aspecto econômico, a fungicultura contribui para a sustentabilidade, visto que o cultivo aproveita resíduos agrícolas, como palha e serragem, para a produção do substrato, transformando materiais que seriam descartados em alimentos de alto valor agregado.
Doenças fúngicas: o lado oculto dos fungos na agricultura
Se, por um lado, determinados fungos oferecem benefícios diretos ao solo e às plantas, outros representam sérias ameaças à produtividade agrícola. As doenças causadas por fungos estão entre os maiores desafios do campo, porque se instalam rapidamente, espalham-se com facilidade e comprometem lavouras inteiras em pouco tempo.
Para compreender melhor esse impacto, vamos listar as principais doenças fúngicas que afetam as culturas brasileiras e como elas se manifestam no campo.
Antracnose
A antracnose é causada por espécies do gênero Colletotrichum, está presente em diversas culturas de importância econômica, como soja, feijão, milho, algodão, café, tomate e frutíferas tropicais, com ampla distribuição geográfica e capacidade de adaptação.
Os sintomas da doença variam de acordo com a planta hospedeira, mas normalmente incluem:
- manchas escuras;
- necrose em folhas;
- hastes e frutos;
- deformações e queda prematura dos órgãos afetados.
Em grãos como a soja, a antracnose pode atacar desde o período vegetativo até a fase de enchimento, diminuindo a produtividade e a qualidade da colheita.
Em condições de temperaturas elevadas e alta umidade, o fungo encontra o ambiente perfeito para germinar e se multiplicar, acelerando a infecção. Respingos de chuva e irrigação, correntes de vento, restos culturais e sementes contaminadas servem de veículo para a disseminação da doença.
Ferrugem
A ferrugem pode ser causada por diferentes espécies do gênero Puccinia e outros fungos relacionados, e afeta culturas de enorme importância econômica, como soja, trigo, milho, café e feijão.
No Brasil, os casos mais relevantes de ferrugem são:
- Ferrugem asiática da soja (Phakopsora pachyrhizi);
- Ferrugem da folha do trigo (Puccinia triticina);
- Ferrugem-do-cafeeiro (Hemileia vastatrix).
Os sintomas clássicos são pústulas alaranjadas ou amarronzadas na face inferior das folhas, que liberam esporos e se espalham rapidamente.
A colonização provoca a redução da área fotossintética, que enfraquece a planta e prejudica a formação de grãos e frutos. Em infecções severas, pode ocorrer desfolha precoce, levando a perdas expressivas na produtividade.
O clima tem um papel central no ciclo da doença: altas taxas de umidade relativa, presença de orvalho e temperaturas amenas criam as condições ideais para a germinação dos esporos. A ferrugem se dissemina pelo vento a longas distâncias, o que explica a rapidez com que epidemias se instalam em grandes áreas de cultivo.
Mancha foliar
As manchas foliares são provocadas por diferentes gêneros de fungos, como Cercospora, Alternaria e Septoria, e cada um é responsável por sintomas e intensidades variadas de dano. Apesar das diferenças, todas têm em comum a redução da área foliar sadia, que prejudica a fotossíntese e, consequentemente, a produtividade da lavoura.
Os primeiros sinais costumam aparecer como pontos escuros ou amarelados nas folhas, que evoluem para lesões maiores, necróticas e, muitas vezes, com bordas definidas. Nos ataques mais severos, a desfolha prematura expõe frutos e grãos à insolação direta e provoca perdas de qualidade e rendimento.
O avanço das manchas foliares é favorecido em ambientes com alta umidade relativa, irrigação por aspersão, ventos frequentes e lavouras muito adensadas, fatores que aumentam o período de molhamento das folhas e criam condições ideais para a infecção fúngica.
A disseminação da doença se dá por respingos de água, vento e também pela sobrevivência dos fungos em restos culturais. Por isso, a rotação de culturas, o uso de sementes sadias e a eliminação de resíduos infectados são medidas indispensáveis de prevenção, complementadas pelo uso criterioso de fungicidas.
Oídio
O oídio se destaca pela facilidade de disseminação e atinge diversas culturas de interesse econômico, como soja, feijão, tomate, trigo, cucurbitáceas e videiras.
Diferente de muitas doenças que necessitam de alta umidade para prosperar, o oídio encontra condições ideais em ambientes quentes e secos, embora também consiga se desenvolver em climas mais amenos.
O sintoma mais característico é o recobrimento branco e pulverulento sobre folhas, hastes, flores e frutos, que lembra um pó ou mofo superficial. À medida que a infecção avança, as folhas se deformam, amarelam e caem. Esse processo reduz a capacidade fotossintética da planta e compromete o rendimento da lavoura. Nos frutos, o dano é ainda mais severo e pode inviabilizar a comercialização.
A transmissão é principalmente pelo vento, que carrega os esporos para longas distâncias. Com a rapidez de dispersão, o oídio pode se instalar em toda a lavoura em poucos dias, por isso exige monitoramento constante e intervenções com agentes biológicos ou fungicidas, quando recomendado.
Como se proteger de doenças fúngicas?
A experiência no campo mostra que, quando se trata de doenças fúngicas, a prevenção vale mais do que a correção.
É por isso que o manejo integrado precisa começar antes mesmo dos primeiros sintomas. Boas práticas, como a rotação de culturas, o uso de sementes sadias, a eliminação de restos culturais e o monitoramento constante ajudam a reduzir a pressão inicial de inóculo.
Mas sabemos que, diante da agressividade de doenças fúngicas, o produtor precisa contar com soluções modernas, seguras e eficazes, como o Evos.
No portfólio da Alta Defensivos, o Evos se destaca como um fungicida multicultural com seletividade superior.
Ele mantém as folhas verdes por mais tempo, protege contra as principais doenças foliares e estimula o pleno desenvolvimento das plantas.
Registrado para culturas estratégicas como soja, milho, café, algodão, trigo, citros, batata, tomate e feijão, o Evos proporciona um controle consistente contra doenças fúngicas de grande impacto econômico: antracnose, oídio, mancha-parda, mancha-alvo, ferrugens, ramulária, pinta-preta, sigatoka e mancha-preta dos citros e outras.
Cuide da sua safra com quem entende do campo: saiba mais sobre o Evos e confira outras soluções inovadoras da Alta Defensivos.
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