O que é nematoide? Conheça mais sobre a praga e suas características

Áreas da lavoura que não desenvolvem como deveriam, plantas desiguais, amareladas e uma produção que não corresponde ao investimento feito. Situações como essas são mais comuns do que se imagina e, muitas vezes, o problema está em algo difícil de enxergar. Você sabe o que é nematoide?
Discretos e difíceis de identificar a olho nu, os nematoides são vermes de corpo cilíndrico, microscópicos, que atacam diretamente as raízes das plantas. E quando isso acontece, a lavoura sente. A absorção de água e nutrientes é comprometida, a planta perde vigor e o prejuízo aparece.
Hoje, vamos explicar de forma direta e prática o que são esses vermes, quais são os tipos de nematoides mais comuns nas lavouras, com foco nos nematoides na soja, e compartilhar orientações simples para fazer o controle com segurança. Também preparamos uma infografia exclusiva com o ciclo de vida dos nematoides. Acompanhe a leitura!
O que é nematóide?
Nematoides são vermes de corpo cilíndrico e alongado, pertencentes ao filo dos nematelmintos, que vivem no solo e podem parasitar plantas, animais e seres humanos. Na agricultura, são especialmente perigosos porque afetam o sistema radicular das plantas, prejudicando diretamente a absorção de água e nutrientes.
Esses organismos pertencem ao filo dos nematelmintos, e sua movimentação no solo acontece entre as partículas, geralmente em ambientes com boa umidade. Eles não costumam se espalhar rapidamente por conta própria, mas podem ser facilmente transportados por água, ferramentas, tratores ou pelas próprias mudas.
O principal problema é que nematoides em plantas nem sempre mostram sinais visíveis na parte aérea. Em muitos casos, os sintomas se confundem com deficiência nutricional ou estresse hídrico, o que dificulta o diagnóstico correto e atrasa o início do manejo.
Eles se multiplicam por meio de ovos, que ficam no solo ou nas raízes. O ciclo de vida pode durar de três a sete semanas, dependendo da espécie e das condições ambientais. Em climas tropicais, como o do Brasil, o desenvolvimento costuma ser rápido.
Por isso, é fundamental conhecer exemplos de nematoides presentes nas lavouras e o comportamento de cada um deles para tomar decisões mais assertivas no manejo e na escolha dos produtos mais adequados para o controle.
Veja abaixo, no infográfico que preparamos, uma representação visual do ciclo de vida dos nematoides no solo e nas raízes.

E o que é fitonematoide?
Quando falamos de nematoides na agricultura, estamos nos referindo especificamente aos fitonematoides, que são aqueles que parasitam plantas. Eles representam uma pequena parte do grupo dos nematoides, mas são responsáveis por grande parte dos prejuízos econômicos nas lavouras.
Os fitonematoides penetram nos tecidos das raízes e se alimentam do conteúdo celular usando um estilete (uma estrutura semelhante a uma agulha). Esse processo enfraquece o sistema radicular, compromete o crescimento da planta e facilita a entrada de fungos e bactérias. O resultado é uma planta que cresce menos, absorve mal os nutrientes e fica mais vulnerável a outras doenças.
Quanto ao comportamento dos fitonematoides, é importante destacar que eles não se distribuem de forma uniforme no solo. Por isso, os sintomas tendem a aparecer em reboleiras — áreas específicas da lavoura onde o desenvolvimento das plantas é visivelmente mais fraco.
Quais são os tipos de nematoides?
Na agricultura, os tipos de nematoides que causam prejuízos às lavouras são classificados principalmente de acordo com o seu modo de vida em relação à planta hospedeira. Eles se dividem em dois grandes grupos: endoparasitas e ectoparasitas.
O tipo de parasitismo interfere diretamente na forma de identificação e na escolha das melhores estratégias de controle, daí a importância de entender esses comportamentos para direcionar corretamente o manejo.
Endoparasitas
São aqueles que penetram nos tecidos da planta e passam grande parte ou todo o ciclo de vida dentro das raízes. Alguns se movimentam internamente (migradores), outros se fixam e permanecem no mesmo local após encontrar um ponto de alimentação (sedentários). É o caso de espécies como Meloidogyne spp. e Heterodera spp., que causam galhas ou formam cistos nas raízes.
Ectoparasitas
Permanecem fora das raízes, mas ainda assim conseguem se alimentar das células vegetais utilizando o estilete. Embora não entrem no interior do tecido radicular, também são capazes de provocar danos, especialmente quando estão em grande número. Um exemplo comum é o gênero Helicotylenchus.
Espécies de nematoides comuns na agricultura
Diversas espécies de nematoides em plantas causam prejuízos nas lavouras brasileiras, mas algumas se destacam pela frequência com que aparecem e pelos danos que provocam nas raízes das plantas. Elas afetam diferentes culturas, como soja, milho, algodão, café, cana-de-açúcar, citros e hortaliças.
Conheça as principais espécies de nematoides encontradas no campo, como cada uma age, quais culturas afetam e como se manifestam nos estágios iniciais.
Nematoide das galhas
O nematoide das galhas, do gênero Meloidogyne, é um dos mais comuns e destrutivos na agricultura brasileira. As espécies mais frequentes são a Meloidogyne incognita e a M. javanica. Esses vermes atacam diversas culturas, como soja, algodão, feijão, tomate, pimentão, cenoura, batata, cana-de-açúcar e hortaliças em geral.
Seu nome vem das galhas, que são deformações que aparecem nas raízes das plantas atacadas. Essas estruturas são resultados do crescimento anormal do tecido radicular causado pela alimentação do nematoide. A raiz fica danificada e perde eficiência na absorção de água e nutrientes.
Os sintomas aparecem primeiro na parte aérea, com plantas menores, cloróticas, murchas e desuniformes, geralmente em áreas com sintomas concentrados. Em casos severos, a planta pode até morrer.
O ciclo de vida do Meloidogyne spp. pode durar de três a sete semanas, com fêmeas produzindo centenas de ovos, o que favorece a rápida multiplicação da praga no solo.
Nematoide das lesões
O nematoide das lesões, do gênero Pratylenchus, também é amplamente distribuído nas lavouras brasileiras. A espécie mais comum é a Pratylenchus brachyurus, que causa danos em culturas como soja, milho, algodão, trigo, arroz, sorgo e cana-de-açúcar.
Diferente do nematoide das galhas, esse parasita é um endoparasita migrador, ou seja, ele penetra nas raízes e se movimenta livremente dentro dos tecidos, causando lesões necróticas. As áreas mortas dificultam a absorção de nutrientes e abrem portas para outros patógenos, como fungos e bactérias.
Os sintomas são percebidos tanto nas raízes quanto na parte aérea. No solo, é comum observar raízes escurecidas, com poucas ramificações e necroses visíveis. Na planta, há redução do porte, clorose e desuniformidade no crescimento, em faixas de baixa produtividade.
Nematoide de cisto
O nematoide de cisto, identificado como Heterodera glycines, é uma das principais ameaças à cultura da soja, sendo exclusivo dessa planta no Brasil. Seu impacto é tão relevante que está diretamente associado à “doença do nanismo amarelo”, caracterizada por plantas atrofiadas e amareladas, dispostas em regiões com falhas de desenvolvimento no campo.
Esse nematoide tem um ciclo de vida peculiar. Após se fixar nas raízes, a fêmea forma um cisto — uma estrutura de coloração amarelada que endurece com o tempo e abriga centenas de ovos. Esses cistos permanecem no solo mesmo após a morte da planta, garantindo a sobrevivência da praga por anos, mesmo na ausência de hospedeiros.
Os sintomas na parte aérea incluem clorose, crescimento limitado e queda na produtividade. Já nas raízes, a presença dos cistos pode ser observada a olho nu, especialmente nas fases mais avançadas da infestação.
Nematoide dos citros
O nematoide dos citros, conhecido cientificamente como Tylenchulus semipenetrans, é uma praga comum em pomares de laranja, limão, tangerina e outras espécies cítricas. Apesar de ser disseminado no Brasil, seus efeitos costumam surgir de forma mais lenta, o que dificulta a percepção imediata dos danos.
Esse nematoide é classificado como semiendoparasita, pois as fêmeas penetram parcialmente nas raízes das plantas, deixando parte do corpo exposta no solo. Ali, estabelecem seu sítio de alimentação e liberam ovos externamente, ao redor das raízes.
Os sintomas nas plantas incluem amarelamento das folhas (clorose), deficiência de nutrientes, morte de ramos e atraso na maturação dos frutos. Com o tempo, o sistema radicular se torna menos eficiente, o que compromete a produtividade do pomar.
Nematoide reniforme
O nematoide reniforme, do gênero Rotylenchulus, é representado principalmente pela espécie Rotylenchulus reniformis. Ele tem ganhado importância em áreas de algodão e soja, especialmente nas regiões tropicais e subtropicais do Brasil, como o Cerrado.
O nome “reniforme” relaciona-se ao formato das fêmeas adultas, que adquirem uma forma semelhante a um rim depois de se fixarem parcialmente nas raízes. Diferente de outros, apenas as fêmeas são parasitas, enquanto os machos não se alimentam das plantas.
Os sintomas nem sempre são evidentes na raiz, o que dificulta a identificação a campo. Mas na parte aérea, é comum observar plantas com crescimento desuniforme, folhas amareladas e sinais de deficiência nutricional, mesmo em solos férteis.
Nematoide cavernícola
O nematoide cavernícola, cientificamente chamado Radopholus similis, é uma praga de destaque principalmente na cultura da bananeira, embora também possa afetar outras espécies tropicais. Sua ação agressiva nas raízes torna essa espécie uma das mais destrutivas em regiões produtoras de banana.
Esse nematoide é um endoparasita migrador, o que significa que ele penetra nos tecidos radiculares e se movimenta livremente por dentro das raízes. Durante esse processo, causa lesões necrosadas profundas e apodrecimento dos tecidos, comprometendo totalmente o sistema radicular da planta.
Os sintomas incluem decomposição das raízes, tombamento das plantas pelo vento ou pelo peso do cacho, desfolha e murchamento irregular. Por atacar de forma silenciosa no subsolo, muitas vezes o produtor só percebe o problema quando já há falhas visíveis na lavoura.
Como identificar a presença de nematoides na lavoura?
Como os nematoides são seres microscópicos e atuam nas raízes, os sintomas só aparecem na parte aérea quando os danos já estão avançados. Mesmo assim, existem alguns sinais e estratégias que podem ajudar o agricultor a suspeitar da presença dessa praga.
O primeiro sinal costuma ser a desuniformidade da lavoura, com plantas menores, mais amareladas e com menor vigor. Essas falhas aparecem geralmente em reboleiras, já que os nematoides não se distribuem de forma homogênea no solo. Em culturas como a soja, pode haver redução no número de vagens, clorose e abortamento de flores.
Ao observar esses sintomas, o ideal é investigar as raízes. Em muitos casos, é possível ver galhas, necroses ou sistema radicular reduzido e escurecido. Já em outras situações, como no caso do nematoide de cisto, é possível visualizar os cistos aderidos às raízes com auxílio de uma lupa.
Mas a confirmação mesmo só vem com uma análise de solo e raízes em laboratório especializado. A amostragem deve ser feita retirando pequenas porções de solo e raízes entre 20 e 30 cm de profundidade, ao redor das plantas com sintomas. As amostras devem ser enviadas o quanto antes para análise, evitando exposição ao sol ou ressecamento.
O diagnóstico é determinante para saber quais espécies estão presentes e qual o nível populacional dos nematoides para escolher o manejo mais eficiente para a realidade da área.
Como prevenir os nematoides de todos os tipos?
Embora o controle dos nematoides seja possível, a prevenção ainda é a estratégia mais eficaz e econômica. Isso porque, uma vez instalados no solo, esses organismos são difíceis de erradicar completamente. É recomendado, portanto, adotar práticas integradas que dificultem sua multiplicação e entrada na área.
Listamos as medidas essenciais para evitar a infestação por todos os tipos de nematoides:
- Limpeza do maquinário: evite que o solo contaminado seja transportado de uma área para outra, comece os manejos pelas áreas limpas e deixe por último as áreas com histórico de nematoides;
- Rotação de culturas: intercale culturas suscetíveis com plantas não hospedeiras ou antagonistas, como crotalária, mamona e milho para interromper o ciclo dos nematoides;
- Análise de solo: realize a amostragem antes do plantio e nas fases críticas da cultura para detectar precocemente a presença da praga;
- Controle biológico de nematoides: utilize microrganismos como Paecilomyces lilacinus, Trichoderma harzianum, Pochonia chlamydosporia e Bacillus amyloliquefaciens, que atuam no combate direto ou na inibição da reprodução dos nematoides;
- Uso de matéria orgânica e adubação equilibrada: aumenta a atividade biológica do solo, favorecendo a presença de inimigos naturais e melhorando a resistência das plantas;
- Escolha de cultivares resistentes: em culturas como a soja, existem variedades com resistência a espécies como Heterodera glycines e Meloidogyne incognita.
A combinação dessas práticas é o caminho mais seguro para manter o solo saudável e a lavoura produtiva. Cada área tem suas particularidades, por isso, o acompanhamento técnico é fundamental para definir o melhor plano de manejo.
Com informação e atenção aos detalhes, é possível reduzir os impactos dos nematoides e proteger a produtividade da lavoura.
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